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quarta-feira, 12 de maio de 2010

"Dia de muito, véspera de pouco"



Brechó carioca socorre "pobres envergonhados"

Grupo no Rio vende roupas para ajudar aqueles que "perderam tudo rapidamente'

"Pobres cadastrados" são tratados por números, para evitar constrangimentos; roupas vêm de doações, pois o grupo não aceita dinheiro.


"Quem é o "pobre envergonhado'?", pergunta o panfleto do grupo Apoio Fraternal. "É o que possuiu bens de fortuna e agora luta com a miséria. É o chefe de família remediada, surpreendido pelo desemprego. É o velhinho sem pecúlio ou a viúva pobre que já desfrutaram de certa posição social."

O grupo que ajuda os "ex-ricos" mantém um brechó num casarão em Laranjeiras, bairro da zona sul do Rio.

Na tarde de sexta-feira circulavam pelas salas da casa jovens descolados e senhoras à procura de roupas -de raposas e casacos de pele a conjuntinhos Valentino, vestidos de festa com pedraria (a R$ 30) e calças jeans (a R$ 2 cada).

"Não podemos falar em "pobreza envergonhada'", afirma a presidente do Apoio Fraternal, Neusa Marins de Castro, 70. Ela trabalha há 16 anos no brechó, que tem ainda móveis, livros e bijuterias.

"Dizem que é um termo feio. Você acha? Eu não. São pessoas que perderam tudo rapidamente. Sair do [status] ruim para o bom é tranquilo, mas sair do bom para o ruim é terrível", explica Marins de Castro.

O grupo tem 60 "pobres envergonhados" cadastrados. Todos são tratados por números, para não precisar se identificar. As roupas doadas ao brechó são vendidas e a arrecadação é transformada em remédios e em outros benefícios para as famílias cadastradas. "Dinheiro não!", diz a presidente.

Para ser aceito no grupo, o "pobre envergonhado" deve escrever uma carta contando sua ascensão e declínio. Em reuniões mensais, os cerca de 50 voluntários analisam as histórias e decidem quem se enquadra no perfil.

"O que mais vemos aqui são famílias de uma classe média quebrada, pessoas que tinham apartamento próprio e, de repente, sofreram um revés na vida", conta Castro.

Além dos remédios, roupas e assistência médica, o ex-rico ganha "auxílio moral" do visitante do grupo -"ele visita, conforta, consola, ensina, orienta"- e "conforto espiritual", por meio de "bons conselhos" e orações na capela nos fundos do casarão.
Autor: Audrey Furlaneto
Folha de São Paulo, 10/05/10

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